terça-feira, 30 de março de 2010

Libertação

Partira dali quando ainda era jovem.
Perdera parte da família pobre;
Pobre por ter pele da cor do cobre.
Trabalham, aram, plantam e não colhem.

Volta agora, de umas terras mais calmas,
Onde não a cor - mas só a alma - importa.
Terra que não é boa, mas não importa.
Importa não julgarem pelas palmas.

Palmas daquele que só a palma corta.
Palmas daquele que não jogou bola.
Palmas daquele que nunca ouviu palmas.

As palmas que mereceu por trabalhar;
As palmas que mereceu por aguentar.
Sigam irmãos: para as palmas já.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Soneto aos Cnidários

Eu ouvi aquela voz
Do meio da multidão
Eu comi aquela noz
Que eu abri com o facão

Na última noite escura
Uma luz eu avistei
Até hoje ela perdura
De onde ela vem eu não sei

Ornitorrincos não dormem
Mas sonham com uma vida
Pois eles no fundo sabem

Que talvez haja saída
Para que eles não acabem
Co'a verdade distorcida

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A Procura

- Mário, onde raios está? – Oswald se perguntava.
Comprara um novo armário, e ao amigo queria mostrar…
Era igual ao que lhos trazia boas lembranças.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Soneto I

Mas q’ouve no alto do morro em que pouso?
Diz-se que a calma está a nossa volta,
Então por que, dizem, à noite solta
A coisa tal que nem a nomear ouso?

O perigo se aproxima, eu já sinto. 
Faz tempo que minha espinha se inquieta
E lembro do que dizia o grande poeta
Que, acho, escrevia sob efeito de absinto

Ele que já escreveu sobre a quimera
A que assola nossas mentes há tempos
Única página que sempre é vera.

Ela que é o maior de todos contratempos
Nos acorda com seu bafo de fera
E logo diz: – Já se acabou o teu tempo

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Soneto a Heisenberg

Heisenberg, o doente
Só fala em incerteza
Então seja decente
E nos diga com clareza

Onde o eletrón está?
Qual sua velocidade?
Não posso determinar
Com veracidade

Se do elétron digo a localidade
Num instante determinado
Não posso dizer sua velocidade

Sou Heisenberg, tenho problemas
Velocidade e posição do eletrón
Estão entre os meus dilemas!

Longe de tão perto (Encomenda)

Poema encomendado por uma colega que preferiu o anonimato. Lá vai! =)

Meu coração voa, flutua
Pois a vida sempre à toa
Muda o rumo da minha proa
E do céu tira a minha lua

Não há glória nem perigo
E o desejo é além-mar
Pois do rei não sou amigo
E Pasárgada já não há

Em branco é meu papiro
Em meio a essa solidão
Só peso, pondero e deliro
Só misturo emoção e razão.

Vida, vida sem razão
És contínua, és regrada
A saída é para o nada
Vejo lá meu coração.

Coração, bobo ainda ileso
Leve-o, sem dó, sem peso
Mas só leves se for leve
E não leves se for breve

Luis Felipe Araújo

Soneto à Guerra Fria (16/10/2009)

Eu vi uma noz
Depois vi uma avelã
Eu ouvi uma voz
Das Colinas de Golã

Tomara que a noiva
Ainda use véu
No dia que o presidente
Voltar a ser Roosevelt

Num Stálin de dedos
Kruschev aparece
Vejo Lênin fazendo prece

Mas que coisa antitética
Kennedy presidente
Da União Soviética!